domingo, 10 de abril de 2011

Grande Mestre Mestre Nakamura Tempu

       
          Desde os primeiros anos da década de 1920, existe uma única forma de Yoga no Japão. Essa forma distinta de Yoga japonesa combina meditação sentada, meditação em movimento, exercícios respiratórios e outras disciplinas que ajudam o praticante a alcançar a unificação de mente e corpo. É chamada Shin shin toitsu do. Através de seus princípios de coordenação de mente e corpo, os estudantes tornam-se hábeis a realizar seu pleno potencial na vida diária. Isso foi criado por um homem memorável, que teve uma vida admirável. Ele era conhecido no Japão como Nakamura Tempu Sensei, e esta é sua história.
O NASCIMENTO DE NAKAMURA SABURO
O pai de Nakamura Tempu Sensei era um bushi, um nobre guerreiro, e filho de um grande senhor feudal em Kyushu. Ele era um homem progressista, que tentou introduzir idéias européias em seu país. A Mãe de Tempu nasceu em Tóquio e era uma mulher elegante, forte e fiel. Depois da restauração Meiji, em 1868, foi removido o poder dos bushis. Ao pai de Nakamura Tempu sensei foi dado um alto cargo no governo, em Tóquio, onde ele criou um papel muito resistente (feito de seda e de tradicionais papéis japoneses), que passou a ser usado na manufatura das notas bancárias do novo governo. A família pvivia em um subúrbio de Tóquio, não muito distante da fábrica de papel. Ele nasceu nessa casa e foi originalmente chamado de Nakamura Saburo.
A infância de Saburo foi muito interessante. Ele era uma criança selvagem que, em uma ocasião, durante uma luta, ficou tão furioso que quebrou o dedo de um garoto e arrancou a lóbulo da orelha de outro. Um grande contraste com o gentil homem o qual se tornou mais tarde, um respeitável professor do espírito que abraçou a causa de pregar a paz mundial.
No equivalente ao collegial, Saburo foi capitão do time de judô. Uma vez, quando seu time derrotou o time de outra escola em um torneio, o time perdedor desenvolveu grande rancor contra ele pois era o capitão. Eles prepararam uma emboscada e, quando Saburo estava a caminho de casa, dez garotos os espancaram cruelmente.
Na manhã seguinte, Saburo visitou a casa de cada um desses garotos e confrontou-os. Finalmente, ele visitou a casa do capitão e ao entrar, encontrou o adolescente. Temendo por sua vida, o garoto fugiu para a cozinha e pegou uma faca. Eles se engalfinharam até que Saburo tomou a faca e perfurou a barriga do garoto, que veio a morrer. Saburo foi enviado para a prisão até que, mais tarde, foi declarado inocente pois agiu em defesa própria.
Saburo odiava perder para outra criança e, anos depois, essa atitude ajudou-o muito a superar diversas dificuldades. Ele cresceu como um perfeccionista, que sentia grande orgulho em realizar seus objetivos. Essa tendência pode ser vista em sua busca de qual é o valor da ciência e da filosofia.

UM AGENTE SECRETO NASCE E QUASE É MORTO
Nakamura Saburo teve um papel ativo como espião na guerra Sino-Japonesa (1894-95) e na Russo-Japonesa (1904-05). Quando estourou a última guerra, ele aplicou-se no trabalho de espiãoe esteve em mais de 2.000 ações por todo o país. Saburo era escolhido porque era corajoso, e porque era um excelente judoka e kendoka (forma moderna de espadachim). Ele foi agente na Manchúria com seu parceiro Hashizume, um japonês nascido naquele páis, e que parecia com um nativo chinês.
Seu time explodiu uma ponte e invadiu o quartel-general do inimigo para roubar documentos; também lutou com bandidos usando espadas japonesas. Saburo, em particular, era letal tendo uma espada nas mãos. Quando foi capturado por uma grupo de cavalaria cossaco, foi sentenciado à morte por um tenente russo.
Em face da morte, Saburo não sentiu medo. De fato, ele dormiu pesadamente na noite anterior à sua execução. Na manhã seguinte, foi servida a ele uma farta refeição russa, a qual ele comeu até se fartar.
O oficial encarregado de observar a execução acompanhou-o no café da manhã. Ele ficou impressionado com a compostura de Saburo e disse: “Você parece um rapaz jovem. Eu sinto ter que te executar. Você tem algo a dizer antes de morrer?”
“Não, nada.”
“Estranho… você não parece triste ou assustado. Por quê?”
Saburo respondeu: “Eu não esotu triste, mas eu tenho um arrependimento.”
“E qual seria esse arrependimento?”
“Minha mãe não pode me ver agora.”
O official russo exclamou: ”Eu não entendo o povo japonês! Como poderia sua mãe ficar feliz de vê-lo morrer?”
“Não, não feliz. Orgulhosa de me ver morrer pelo meu país.”
Pouco antes de ser executado, Saburo recusou uma venda para os olhos, dizendo para os tr~es atiradores: “Eu quero ver onde as balas vão me atingir. Não errem.”
Quando os atiradores estavam para abrir fogo, uma Granada de mão explodiu. Ela tinha sido atirada por Hashizume, que foi informado do destino de Saburo por uma garota chinesa que havia sido salva por Saburo. A comoção causada pela explosão permitiu que Saburo escapasse, carregando preso ao corpo o poste que o prendia. Essa foi, de fato, uma curta escapada. Mais tarde, essa história foi transformada em drama e apresentada em teatros no Japão.
TUBERCULOSE E A BUSCA DE UMA NOVA VIDA
O Japão venceu a Guerra Russo-Japonesa. De qualquer modo, a vida de Saburo na Manchúria foi miserável. Ele bebia água contaminada, se alimentava de comida estragada e usava roupas em péssimo estado.
Após seu retorno ao Japão, Saburo começou a tossir freqüentemente e um dia vomitou sangue. Foi diagnosticada uma severa tuberculose. A morte estava chegando lentamente pois naqueles dias a doença não tinha cura.
Quando teve a sentença de morte, Saburo não ficou preocupado, apesar de esta vez ser diferente. Sua mente forte foi enfraquecendo e ele foi ficando bravo consigo mesmo. Começou a ler livros sobre religão e filosofia e pensava constantemente sobre o significado da vida. Ele procurou os santos do cristianismo e do Zen, mas nenhum deles parecia responder de forma satisfatória a questão básica: “Como eu torno minha mente mais forte?”
Ele ficou decepcionado ao descobrir que mesmo personalidades religiosas famosas não tinham princípios concretos e pragmáticos ou métodos que poderiam ser usados para guiar as pessoas com amor e simpatia. Ele spodiam pregar certas idéias mas eles não podiam verdadeiramente ensina-las. Mais tarde, quando Saburo tornou-se o renomado professor espiritual Tempu, ele criou princípios fáceis de serem compreendidos e métodos de unificação de mente e corpo. Ele ajudou pessoas de um modo amoroso e simpático, porque ele tinha passado por um período extremamente difícil durante seu tempo doente.
Um homem ou mulher comuns que caem doentes podem querer ficar em seu país, mas não Saburo. Apesar de tudo, ele fez uma longa jornada de barco, cruzando o oceano Pacífico, até os Estados Unidos, a procura da verdade e da salvação. Mesmo assim, na América ele se desapontou novamente porque ninguém podia responder as perguntas que o torturava.
Em Nova Iorque, ele estudou medicina na Universidade de Colúmbia, sem conseguir encontrar uma solução para seu problema. Ele então cruzou o oceano Atlântico até O Reino Unido, onde ele participou de um caríssimo seminário de psicoterapia. Na conferência, o palestrante concluiu: “Esqueça sua doença. Este é o segredo de se curar dela.”
Saburo não ficou satisfeito com a resposta desse homem, então ele o visitou novamente: “Eu estou perdido. Eu não consigo esquecer minha doença. Por favor, me ensine a faze-lo.”
“Tente e tente,” o palestrante disse.
“Eu tenho tentado muito mas…”
Como o homem não tinha outra resposta, eles começaram a discutir. Saburo ficou ainda mais raivoso. Ele se levantou e chutou a porta antes de deixar a sala, pensando que era impossível ensinar pessoas sem antes primeiro mostrar a elas a fazer o que é pedido. Isso serviu como um catalisador para a evolução de sua me´todo prático de ensinar unificação de mente e corpo.
Não muito mais tarde, um conhecido seu deu-lhe uma carta de apresentação à famosa atris Sarah Bernhardt. Ele foi para Paris encontra-la em 1911. Bernhardt não era apenas uma grande atriz mas também uma grande filósofa. Quando ele visitou sua mansão ele esperava encontrar uma mulher velha mas Bernhardt parecia não ter mais que 27 ou 28 anos. Sendo que, na realidade, era tinha 66 anos de idade.
“Você parece muito jovem. Você realmente é Sarah Bernhardt?”
“Sim, não existe idade para uma atriz, “ ela disse sorrindo.
Saburo foi convidado a ficar alguns meses em sua casa imensa, onde belas atrizes e celebridades visitavam seu salão e onde ele pôde ouvir genuínas risadas de felicidade. Foi nesse período que ele entendeu com clareza o valor e importância da risada para a vida humana. Este veio a ser um de seus principais ensinamentos.
Sarah recomendou que ele lesse a biografia de Emanuel Kant, uma filósofo alemão que tinha sofrido de uma doença incurável nos pulmões quando era criança. Kant sofreu grande dor e constantemente enquanto era ouvia constantes reclamações de seus pais. Em uma ocasião, um médico o atendeu quando ele estava doente, “Sua doença, eu sinto dizer, não pode ser curada. Seu corpo está sofrendo, mas sua mente é saudável e não precisa sofrer. Se você não pensar em seu corpo, sua mente fará o que você quiser que seja feito.”
Kant então compreendeu como ele deveria viver sua vida. Ele devia seguir a inclinação de sua mente para fazer o que ele mais queria. E isso era estudar filosofia.
Saburo ficou muito emocionado quando ele leu essa história, e sua mensagem pode ser, mais tarde, refletida no seu Shin shin toitsu-do, “O caminho da unificação mente e corpo”. (Tempos depois, Tempu sensei contou a seus estudantes que ele relembrou da história de Kant quando estava meditando na Índia, o ponto final de sua busca por uma cura para a tuberculose e realização espiritual).
Nessa época, Saburo foi apresentado ao dr. Hans A. D. Driesch, que era um importante pensador alemão e europeu. Saburo perguntou a ele sobre a relação entre corpo e mente, e como tornar sua mente mais forte. O filósofo respondeu: “Este é um mistério muito antigo. Eu vou pensar a respeito, e voc~e pense a respeito. Se algum de npos encontrar uma resposta, será uma grande contribuição para a humanidade.”
O comentário foi muito desencorajador. Tempu sensei contou anos depois a seus estudantes: “E pensava que se eu abrisse aquela porta, haveria um belo jardim repleto de flores. Mas, o que encontrei foi uma grande ravina de desespero.”
Saburo perdeu sua última esperança. Ele decidiu retornar ao Japão para ver sua mãe e morrer como um homem desapontado. Em Marselha, ele embarcou em um navio cargueiro para a China. Ele pensava que poderia morrer durante a viagem enquanto estava deitado em uma cama feita em um mar de amargura.
Quando a embarcação estava próxima do canal de Suez, veio a informação de que um navio de guerra italiano havia afundado no canal, e por isso eles teriam que mudar o caminho e seguir para Alexandria, Egito, por vários dias. O navio baixou âncora no porto de Alexandria, na foz do rio Nilo.
A bordo estava um home das Filipinas, que tornou-se amigo de Saburo. “Você e eu somos os único asiáticos neste navio. Por que não nos tornamos amigos e vamos ver as pirâmides, “ ele disse.
Apesar de não estar com disposição, Saburo foi com ele para o Cairo, onde ficaram em um hotel. Na manhã seguinte, quando Saburo estava nos banhos, ele vomitou uma grande porção de sangue. Ele sentiu tontura e não pode mais ficar em pé. Então ele caiu de cama como se fosse morrer. Apesar disso, seu amigo filipino ainda queria ver as pirâmides.

UM ESTRANHO MISTERIOSO
Algumas horas mais tarde, um funcionário africano, do hotel, ficou sabendo de Saburo e o avisou: “Se você sair sem comer alguma coisa, vai morrer.” O forte homem carregou-o nos braços para o restaurante do hotel. Saburo pediu sopa, mas em sua condição de fraqueza, o sabor do alimento era de areia.
Foi quando ele percebeu um homem vestido de púrpura, sentado cinco ou seis mesas adiante. Sua pele era marrom, e ele parecia ter algo em torno de sessenta anos. Na verdade, aquele homem tinha quase cem anos. Dois homens estavam em pé logo atrás e demonstravam enorme admiração.
“Talvez ele seja um chefe tribal,” Saburo pensou consigo mesmo.
Grandes moscas egípcias, do tamanho de um dedão, voavam por todo o restaurante. Uma dessas moscas pousou na mesa, frente ao misterioso homem. Ele apontou a mosca e o poder de sua vontade pareceu ter afetado o inseto que ficou sem movimento. Um garçom a apanhou com duas varetas e jogou-a em um cinzeiro.
“Será um mágico?” Saburo admirou-se. O homem olhou para Saburo e sorriu. Saburo, que ficou comovido com a atenção do estranho, sorriu de volta quase sem forças. O velho homem ordenou: “Venha aqui!”
Em um instante, Saburo encontrou-se em frente a ele como se tivesse sido atraído por um forte magneto. O homem o observou com atenção durante um instante.
“Você tem uma séria doença em sue pulmão esquerdo. Você está decidido a ir para casa morrer. Mas, meus olhos me contaram que você não está destinado à morte, ainda. Venha comigo, amanhã.”
“Certamente,” Saburo respondeu sem pensar, surpreso com as próprias palavras.
Ele contou a história para o amigo filipino, que respondeu, “Ele pode ser um traficante de escravos, e você pode ser vendido!” Ele tentou deter Saburo de ir com o misterioso homem. A situação parecia séria, e seu amigo filipino começou a chorar. Mas a mente de Saburo estava decidida.
Na manhã seguinte, quando Saburo foi aos bancos de areia do rio, atrás do hotel, ele viu um navio com três velas amarradas. A bordo do navio estava o homem. Ele simplesmente disse, “Você está salvo.”
Saburo não perguntou quem ele era, onde o estava levando, ou mesmo se ele poderia salva-lo. Seu silêncio trouxe interesse e encantamento ao “homem de púrpura.”

AOS PÉS DO HIMALAIA
Após uma jornada de três meses, eles chegaram à uma vila na Índia chamada Gorkhe, quem se localizava aos pés do terceiro pico do monte Kanchengjunga , no Himalaia. Essa vila era um antigo sítio histórico, onde os yogis iam para praticar sob a direção de seus gurus ou professores. O estranho homem era um líder espiritual, um adepto do yoga chamado Cariapa (Kaliapa). A família real britânica, uma vez, o convidava uma vez por ano para ver o rei, e Saburo o havia encontrado, por acaso, no Cairo, quando o homem santo estava em seu caminho de retorno à Índia. Esse encontro foi um momento crucial na história, e não meramente por ter salvo a vida de Saburo. Mas para Nakamura Saburo eventualmente tornar-se o homem conhecido no Japão como Tempu sensei, fundador do sistema Shin-shin-toitsu-do de yoga japonesa. E ele, por sua vez, resgatar muitas pessoas no Japão da doença, enquanto ajudava incontáveis outras.
Nessa vila yogue, o velho homem cuidou de Saburo. Ele lhe deu uma cabana muito simples para viver. Como Saburo pertencia à mais baixa das classes (casta), e Cariapa era da mais alta, Saburo foi avisado a não conversar diretamente com ele.
Todas as manhãs o guru aparecia para receber os cumprimentos de seus estudantes. Saburo e outros foram avisados para se prostrarem no chão e era proibido a eles olhar para cima.
Os dias foram passando desse modo, mas Cariapa não ensinava coisa alguma a ele. Saburo pensou em que o guru o chamaria imediatamente para instruções, mas mas de um mês havia se passado. Tinha Cariapa esquecido a promessa que ele tinha feito no hotel no Cairo? Saburo não poderia esperar muito mais, e quando o guru tomou seu caminho alguns dias mais tarde, ele se levantou subitamente e disse, “Eu tenho uma pergunta!”
Cariapa sorriu seu cortumeiro grande riso. Saburo soube então que ele não havia esquecido sua promessa.
“Você me disse, no Cairo, que iria me ensinar. Quando irá fazr isso?”
“Eu estou pronto para começar a qualquer momento, mas é você que não está pronto ainda.”
“Eu estou pronto. Eu vim aqui por nenhuma outra razão.”
“Você não parece pronto. Eu vou explicar. Traga-me uma pote de barro cheio de água gelada.”
Havia alguns potes de água gelada deixados aqui e acolá. Saburo pegou um deles e levou par ao guru. Depois, Cariapa ordenou que ele trouxesse um pote cheio de água quente. Saburo o fez.
“Coloque essa água quente no pote de água gelada,” o professor disse, ainda que o pote já estivesse cheio de água gelda.
“A água vai vazar se eu fizer isso, “Saburo respondeu.
“Como você sabe disso?”
“Porque é uma coisa simples de se ver,” Saburo disse indignado.
“O mesmo pode ser dito a seu respeito. Sua mente está cheia de outras coisas. Você está pensando, ‘Eu estudei medicina na América, Eu sou de uma país civilizado, Eu li muitos livros de filosofia.’ Você também está cheio de orgulho. Se você não se esvaziar, não importa o que eu diga não irá entrar em sua mente, certo?”
Assustado, Saburo entendeu imediatamente e foi levado a recuar.
“Você parece me entender agora. Tudo bem. Eu começo a te ensinar a partir de amanhã pela manhã. Por favor, venha para o meu quarto com a mente como a de uma bebê recém nascido.”

PRIMEIROS PASSOS NO CAMINHO
Enfim Saburo começou seus treinos em yoga.
O mais importante passo foi aprender como realizar kumbhaka, um estado psicofísico que era dito estava relacionado com o corpo espiritual que pode suportar todos os tipos de dificuldades cruéis das montanhas do Himalaia.
Seu professor de yoga deu apenas dicas sobre como conseguir isso: “Mantenha seu corpo como uma garrafa cheia de água com pressão uniforme ao redor. Isso é kumbhaka.”
Os yogis que estavam ávidos de realizar kumbhaka entravam em uma corrente rasa e sentavam na água para meditar. A água era gelada como gelo, porque ela vinha da neve derretida dos Himalaias. Com a parte baixa do corpo sob a água, eles buscavam adotar uma postura yogi que os capacitava a suportar o frio gélido.
Um dia, a Saburo foi permitido praticar com os outros yogis. O guru contou a ele que um homem velho, com aproximadamente 90 anos, estava fazendo isso a anos, mas ele ainda não tinha sido capaz de permanecer na postura naquelas condições inóspitas. Saburo, no entanto, depois de algumas semanas descobriu-se capaz de permanecer na água gelada.
“Agora você está chegando lá,” Cariapa chamou-o enquanto Saburo estava no rio. Mas, uma vez que Saburo estava fora do rio, o guru chorou, “Não, não ainda!”
Saburo queria saber porque ainda não estava bom o bastante para seu mentor. Ele voltou a praticar no rio, e poucos dias mais tarde, depois que ele tinha saído do rio, o professor de yoga aproximu-se dele e disse feliz, “Agora você chegou lá. Tanto quanto eu sei, você foi a passoa mais rápida a alcançar kumbhaka.” (Cariapa parece ter ensinado a muitos Raja yoga e pranayama – meditação yoga e exercícios respiratórios. Saburo parece ter recebido poucas instruções em exeercícios de alongamento e posturas físicas de Hatha yoga, as quais são as formas de yoga mais largamente praticadas no ocidente.)
Para Saburo, a comida parecia ser de pouca qualidade na vila yogue – algumas vezes apenas painço ou grama de curral mergulhada na água era servida sobre folhas de figo. Um dia Saburo reclamou a seu professor, “Eu estou sofrendo de tuberculose. Quando estava na Europa, eu costumava me alimentar de comida nutritiva como carne e ovos, todos os dias. A comida é porbre por aqui. Ele realmente vai sustentar meu corpo?”
Cariapa respondeu, “Olhe para aquele elefante. Ele tem um corpo poderoso mas não come carne ou ovos.”
Depois de mais algum tempo, Saburo, de um modo misterioso, parou de vomitar sangue. Sua febre baixou, e chegou mesmo a ganhar peso.
A princípio ele pensou, “Este ar puro deve ser bom para minha saúde.” Gradualmente ele veio a acreditar que podia ser a dieta vegetariana que estava melhorando sua saúde.
Desde que ele realizou kumbhaka, o guru começou a leva-lo a uma cachoeira nas profundezas da montanha a fim de meditar. Eles – o professor de yoga cavalgando um burrico e Saburo a pé – iam para a montanha todos os dias.
Havia uma pedra plana próxima à base da queda d’água. Na primeira visita, Cariapa apontou para a pedra e disse, “Sente ali e pense porque você nasceu neste mundo.”
Saburou sentou naquele local e pensou sobre as questões durante muitas horas. A tarde, o guru apareceu de repente e perguntou pelas respostas às questões. Sua resposta estava errada, e Cariapa bateu nele.
Naquele momento chocante, Saburo deu-se conta que havia nascido com a grande missão de criar em uníssono com o criador do universo. Ele sentiu que ele era um com esse espírito universal, e que ele compartilhava da mesma sabedoria. Ele contou isso para Cariapa e dessa vez o guru felicitou-o, dizendo, “Muito bem.”

A VOZ DO CÉU
Mesmo com sua realização, Saburo e Cariapa continuaram visitando a queda d’água para meditação. A princípio, Saburo ficou perturbado pelo som ensurdecedor da queda d’água. Ele reclamou para eu professor, “Aquele som é terrível e ensurdecedor. Aquilo me deixa louco. Não posso meditar em algum local mais pacífico?”
Cariapa respondeu, “Eu pensei profundamente a esse respeito, e escolhi aquela rocha para sua meditação.”
“Porquê?”
“Para te ajudar a ouvir a Voz do Céu.”
“A Voz do Céu?”
“Sim.”
“O céu tem uma voz?”
Saburo respeitou o professor, mas ele ainda tinha algumas dúvidas a respeito da idéia da “Voz do Céu”. Ele pensava que tinha vindo de uma sociedade civilizada, e ele sentia que agora estava em uma não civilizada, em uma parte do mundo sem educação.
Ele perguntou de modo cínico, “Você tem ouvido a Voz do Céu?”
“Sim, eu a escuto todo o tempo. Eu a estou escutando mesmo agora, conversando com você deste modo.”
Saburo não conseguia entender sobre o que o guru estava falando.
“Se você está perturbado pelo som da queda d’águam você não pode ouvir isto. Nem mesmo ouvir as Vozes da Terra.”
“Você está dizendo que há Vozes da Terra também?”
Cariapa explicou, “”Bestas uivam, insetos trinam, pássaros cantam, o som do vento – estas todas são Vozes da Terra.”
“Eu posso ouvi-las todas.”
“Você pode ouvi-las estando na base da queda d’água?”
Sem pensar, Saburo replicou, “Não, isso é impossível. Naquela barulho terrível, não é possível ouvir coisa alguma.”
“Desde que você pense desse modo, você não pode ouvi-los. Tente ouvir, hoje, as Vozes da Terra. De fato, primeiro tente e então veja se você pode ouvi-las ou não.”
Saburo tentou, mas o barulho trovejante se sobrepos e ele não conseguiu ouvir coisa alguma. Mas, poucas horas depois, ele estava de olhos fechados e sentado calmamente sobre a rocha, o som fraco de um pássaro cantando cheogu aos seus ouvidos.
Ele abriu os olhos e viu alguns pequenos pássaros coloridos voando de uma rocha para a outra. No começo, isso pareceu um tipo de alucinação, mas a seguir, ele pode ouvir claramente o pássaro cantando do mesmo modo que os via os bicos em gancho se movendo.
“Agora eu posso ouvir!”
Então ele se deu conta que quando ele tentava com muita intensidade ouvir, ele não ouvia. Mas quando ele nada fazia, em sua mente podia crescer a calma e o vazio, e então ele captava o trinar dos pássaros.
Depois de alguns dias, Saburou notou que era capaz de ouvir cigarras trinando, o som do vento tocando a folhagem, e mesmo o uivo de uma pantera e de um lobo no fundo da floresta. Feliz, ele contou tudo isso para seu professor.
“Que maravilha. Agora você também pode ouvir a Voz do Céu,” o guru replicou.
Saburo tentou muito ouvir a Voz do Céu, no entanto, ele não ouvia nada. Não havia nem mesmo um sinal.
Ele perguntou ao professor de yoga, “Como a Voz do Céu se parece?”
“Você também ouve a Voz da Terra quando tenta ouvir a Voz do Céu?”
“O quê?”
Cariapa esclareceu, “Você pode naturalmente ouvir a Voz do Céu se você não ficar preso às vozes da terra que entrarem em seus ouvidos.”
Saburo estava intrigado, mas continuou tentando ouvir a Voz do Céu. “Eu vou tentar ignorar as Vozes da Terra,” Ele pensou. Mas quanto mais ele tentava, mais as vozes se cravavam e sua mente.
Dia após dia ele continuou sua prática meditativa na busca de ouvir a Voz do Céu. Ele acabou ficando irritado. Ele detestava a idéia de fazer mais uma pergunta ao guru, e começou a ranger os dentes de frustração.
Todos os dias ele sentia grande sofrimento. Ele chegou a ter o impulso de jogarse na base da queda d’água. “Quantos dias mais vou precisar passar deste modo?” ele perguntava a si mesmo.
Um dia, enquanto estava sentado de olhos fechados, ele sentiu alguma coisa lambendo seu joelho. Ele abriu os olhos e viu um animal negro, do tamanho de um cachorro grande. Rapidamente Saburo deu-se conta que aquilo não era um cachorro. Era uma pantera negra.
Saburo encarou a pantera. A pantera encarou Saburo. Ele olhou dentro de seus olhos brlhantes e sua mente esvaziou-se por ela mesma como já tinha acontecido em sua meditação. Ele nada fez, e lentamente o animal desceu seguindo a corrente.
Após o animal desaparecer, Cariapa apareceu e correu até ele.
“Você viu a pantera?”
“Sim, eu a vi.”
“Está tudo bem?”
“Sim, eu estou bem, senhor.”
Saburo ouviu que a pantera negra dos Himalais são conhecidos por serem as mais ferozes e perigosas do mundo. No caminho de volta à vila, naquela tarde, o guru perguntou a ele, “Você sentiu algum medo quando se encontrou com a pantera?”
“Não, nenhum medo.”
“Então você sera capaz de ouvir a Voz do Céu no devido tempo. Quando os seus olhos e os olhos da pantera se encontrara, você não agiu ou pensou coisa alguma. O natural, o não forçado, o sentimento inocente é muito importante. Não esqueça esse sentimento!”
Três meses passaram, Saburo ainda não conseguia ouvir a Voz do Céu.
Ele contou a Cariapa, “Está parecendo muito difícil ouvir a Voz.”
“Se você pensa desse modo, isso pe difícil. Você agora ouve pássaros trinando e cigarras cantando. Mas quando você me ouve, sua mente os percebe, ainda assim, você não está preso a eles. É por isso que você pode me ouvir, certo? É isso. É a mesma coisa. É tão simples.”
Saburo tentou novamente e novamente ouvir a Voz do Céu, e isso quase o levou à loucura. Ele se sentia humilhado. A pesada carga em sua mente estava chegando ao limite.
Um dia, Saburo pensou, “Não quero mais! Eu paro aqui. Eu desisto.”
E ele se levantou e gritou, “Qual a utilidade disso? Eu vivi toda a minha vida sem ouvir a Voz do Céu. Ao inferno com isso! Dane-se!”
Ele se jogou sobre a grama com o rosto para cima. Ele semicerrou os olhos e olhou para o céu. Alguns flocos de nuvens estavam flutuando. Lentamente ele ficou mais interessado naquilo, e atraído pelas mudanças de formas de cada nuvem. Sem perceber, ele naturalmente encontrou a si mesmo nada fazendo e nada pensando, e através de seus ouvidos estava recebendo diversos sons que vinha de seu derredor.
Naquele instante, ele alcançou uma profunda realização, e ele penetrou fundo no íntimo da natureza da vida.
Ele disse a Cariapa quandoe stavam deixando a montanha, “Eu estava olhando as nuvens, e de repente eu senti a mim mesmo nada pensando … de qualquer modo, eu não ouvi a Voz do Céu.”
“Muito bem, você finalmente ouviu a Voz.”
“O que você quer dizer com isso?”
“A Voz do Céu é a voz sem voz – a absoluta imobilidade.”
“Eu entendo…. Bem, eu tenho outra questão. O que acontece se você ouve a Voz?”
Cariapa simplesmente respondeu, “Sua vida agora está cheia com uma infinita e natural energia vital.”
“Energia vital natural?”
“Logo, daqui alguns dias, os sinais disso estarão presentes de modo claro e evidente para você.”
Lágrimas escorreram dos olhos de Saburo e caíram pela sua face. Ele pensou, “Eu estudei medicina na Universidade, mas eu não pude ver esta verdade. Agora o universo, tentando salvar um tolo como eu, suspira algumas palavras preciosas por meio deste homem velho.”
E ele chorou de júbilo. Isso foi em 1912, e ele estava com 36 anos. Deste modo, Saburo experimentou Satori, ou a realização espiritual. Sua doença havia desaparecido.

RETORNANDO AO JAPÃO
Antes de voltar ao Japão, Saburo foi à terra, em Shangai, para uma troca de navios. Ali ele encontrou um de seus velhos amigos, o sr. Enza, embaixador japonês na China. O diplomata pediu a ele que fosse guarda-costas de Sun Wen, que então era o condutor da Revolução Silenciosa de Xinhai. Saburo concordou e mais tarde tornou-se o principal consultor de Sun Wen. Ele o acompanhou ao castelo de Tzu Chin Cheng.
Como recompensa por seus serviços ao grand elíder, Saburo recebeu uma grande quantidade de prata que ele levou da China ao Japão. Com esse capital, Saburo estabeleceu um banco e várias companhias em Tóquio. Ele fez sucesso no mundo dos negócios e acumulou uma grande fortuna.
Após vários anos atuando como líder dentro da comunidade de negócios japonesa, ele teve uma poderosa visão que ele estava para ensinar o que ele havia aprendido na Índia. Ele abandonou seu status social , negócios e sua fortuna. Com a idade de 43 anos, ele começou a ensinar suas idéias para o público. Isso foi em 8 de junho de 1919.

O VENTO DO CÉU
Saburo nomeou a si mesmo Tempu, “O Vento do Céu.” Hara Takashi, que havia sido primeiro ministro do Japão, ouviu falar dele e foi assistir uma de suas palestras e ficou muito impressionado. Ele ajudou alguns dos estudantes de Nakamura Tempu Sensei a criar uma sociedade para dar suporte a Tempu Sensei e a seu trabalho. A sociedade foi chamada Toitsu Tetsuigakkai, ou “A Filosofia da Unidade e Sociedade de Pesquisas Médicas.” Mais tarde, o nome mudou para Tempu-kai, “Asociedade Tempu.” Pessoas líderes em vários círculos sociais tornaram-se membros. E o estudo de Shin-shin-toitsu-do não ficou limitado a cidadãos japoneses.
A vida de Nakamura Tempu sensei, após seu retorno ao Japão, foi radicalmente diferente daquela que levava antes, pois ele passou a ter uma personalidade completamente diferente.Foi-se a violência da juventude, substituída pela do maduro professor de meditação, que de forma ampla abraçara a não violência.
Durante a II Grande Guerra, Tempu sensei foi uma das relativamente poucas pessoas que falou publicamente contra as atividades japonesas de Guerra. Apesar do fato de muitos líderes militares estarem entre seus alunos, e apesar do clima político no Japão, ele abertamente criticava o envolvimento de seu país na guerra. Como resultado da sua defesa de que o Japão deveria retirar-se da guerra, ele foi posto na prisão. Logo ele foi solto mas, sem medo, continuou a advogar a absoluta não violência nos campos pessoais e nos níveis políticos.
Logo que findou a II Guerra Mundial, Tempu Sensei foi convidado a falar sobre Shin-shin-toitsu-do no Quartel General das Forças Americanas de Ocupação. Isso pode parecer estranho mas a razão foi simples: Tempu Sense9i havia salvo um piloto americano de ser morto por uma multidão de japoneses quando o oficial foi obrigado a fazer um pouso de emergência. Tampu Sensei também podia falar bem em inglês, pois havia estudado medicina na Universidade de Colúmbia.
Tempu Sensei estava muito feliz de ensinar o público do Quartel General. O milionário John Rockefeller III, que aconteceu de estar na platéia, ficou tão impressionado com o que Tempu Sensei tinha a dizer que o convidou a ensinar em seu Instituto Da Ciência da Vida, nos EUA. Ele disse: “Não importa quanto dinheiro você quer, eu o dou a você. Então, por favor, venha para a América!”
“Eu não quero dinheiro. Eu quero ensinar meu povo primeiro, então eu posso ir ao seu país,” Tempu sensei respondeu.
Tempu sensei nunca visitou os Estados Unidos para ensinar, mas depois de retornar da Índia, ele passou a advogar o estabelecimento da par e amizade entre as pessoas nos níveis locais e internacionais. Ele tinha mudado dramaticamente desde que fora o garoto violento, espião, soldado e homem moribundo.
Nakamura Tempu sensei ensinou por aproximadamente 50 anos. Ele gradualmente desenvolveu um detalhado sistema de exercícios e princípios de unificação de mente e corpo que envolvia seus aprendizado e realização na Índia. Seus ensinamentos ajudaram e transformaram a vida de muitas pessoas
Algo em torno de um milhão de pessoas tornaram-se membros da Sociedade Tempu enquanto esteve vivo. De qualquer forma, Tempu sensei nunca fez propaganda da Sociedade. Ele quis dividir o Caminho do Universo com as pessoas que ele encontrou no curso de sua evolução espiritual e destino. Nakamura Tempu sensei faleceu e retornou ao espírito universal em 1968. Ele tinha 92 anos de idade.

texto:Sawai Atsuhiro
fonte: kiaikidocuritiba.com.br