domingo, 17 de julho de 2011

Sammo Hung Astro de filmes de kung fu saboreia o prestígio de sua carreira nas ruas

Por Joyce Hor-Chung Lau Do New York Times, em Hong Kong

Sammo Hung 1
 
o respeito quando Sammo Hung caminha pelas ruas de Tsim Sha Tsui, o bairro onde ele, ainda menino, aprendeu pela primeira vez as artes marciais.

Mulheres pedem seu autógrafo numa lanchonete onde ele toma seu café preto. Operários sem camisa sob o calor do verão se amontoam na beirada de seus caminhões e acenam. Turistas tiram fotos à medida que ele passeia ao longo da Avenida das Estrelas – um tipo de calçada da fama local –, onde as impressões de suas mãos ficam entre a de Jackie Chan e a de Brigitte Lin.

Não muito famoso entre plateias típicas dos Estados Unidos, Hung, de 58 anos, é conhecido como o “Grande Irmão” dos filmes de kung fu de Hong Kong. O corpulento ator não percorreu a rota de Hollywood, como seu colega Chan, e ficou principalmente na Ásia – onde dirigiu, produziu, coreografou ou atuou em cerca de 200 filmes. Ele é mais conhecido como coreógrafo de lutas, trabalhando nos bastidores com estrelas como Chan e John Woo e desempenhando um papel integral no desenvolvimento do gênero kung fu.
Sammo Hung é abordado com frequência por fãs de todas as idades. (Foto: Lit Ma/New York Times)
Isso lhe valeu um prêmio de realização pela obra no recente Festival de Filmes Asiáticos de Nova York. Foram exibidos quatro de seus trabalhos: “Eastern Condors” (1987), um filme sombriamente humorístico da guerra do Vietnã que dizem ter sido uma influência para “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino; “Kung Fu Chefs” (2009), uma comédia; e os dois filmes “Yip Man” (2008 e 2010), baseados na vida de Yip Man, um grande mestre do estilo Wing Chun de artes marciais que foi professor de Bruce Lee – e para o qual Hung fez a coreografia de lutas. Uma projeção com lotação esgotada de “Yip Man 2” abriu o festival.

O negócio do entretenimento corre na família de Hung. Sua avó, Chin Tsi-Ang, foi uma das primeiras atrizes de artes marciais com espadas, e seu avô era diretor.

Nascido Hung Kam-bo em 1952, ele foi criado na tradição da velha Peking Opera School, através da qual os pais mandam seus filhos para viver no campus e se tornarem aprendizes de um mestre – que os ensina artes marciais, acrobacias, canto e dança.

“Eu nunca fui bem na escola, estava sempre brigando nas ruas”, disse Hung. “Então, me mandaram para aprender a lutar”.

Aos nove anos, ele foi enviado para ser treinado no bairro Tsim Sha Tsui, de Kowloon, onde conheceu um aluno mais novo chamado Chan Kong-sang, que se tornaria Jackie Chan. Sob administração da escola, eles se tornaram estrelas infantis numa trupe de atuação.

“Nós acordávamos muito cedo e trabalhávamos até onze horas da noite”, contou Hung. “Havia um pequeno banco de madeira, e tínhamos de fazer uma parada de mão sobre ele durante uma hora. É claro que eles batiam nas crianças. Eu vivi lá por sete anos”.

Décadas depois, em 1988, Hung interpretou seu ex-mestre em “Painted Faces”, um drama que retrata a vida espartana dos garotos. “Nosso sofrimento verdadeiro”, disse ele, “era muito pior do que aparece no filme”.

Hung conta não ter aprendido especificamente kung fu até depois de deixar a escola. Ele também passou anos estudando uma variedade de estilos de luta da China e outros países asiáticos.

Ele se estabeleceu como diretor de ação, coreografando as elaboradas cenas de luta pelas quais são conhecidos os filmes de Hong Kong – e chegando até mesmo a lutar em algumas delas. Ele interpreta o distinto monge Shaolin, por exemplo, com quem Bruce Lee luta na abertura de “Operação Dragão” (Enter the Dragon, 1973).

Ao longo das décadas de 70, 80 e 90, Hung se envolveu em inúmeros filmes, que o sistema de estúdios de Hong Kong lançava de forma rápida e barata. Ele se especializou nos filmes B de que o público local tanto gosta.

O cinema de Hong Kong começou a desenvolver sua própria cara, afastando-se dos dramas estilizados de costumes, falados em mandarim. Os cineastas começaram a usar um humor desbocado, ambientes urbanos, cenas de combates corpo-a-corpo e o cantonês duro das ruas.
Hung trabalhou ao lado de nomes como Bruce Lee, Jonh Woo e o amigo de infância Jackie Chan. (Foto: Lit Ma/New York Times)
“Os filmes de kung fu precisavam se mover com o resto do mundo”, afirmou Hung. “Você não podia continuar fazendo lutas de espadas em filmes históricos. As pessoas queriam super-heróis. Eles queriam algo rápido e novo”.

De 1988 a 2000 ele estrelou “Martial Law”, um drama televisivo de horário nobre na CBS, onde interpretava um policial chinês que lutava kung fu.

Como todos no mercado cinematográfico de Hong Kong, Hung está realizando mais trabalhos na China, à medida que o país se abre e sua indústria do entretenimento cresce. Dito isso, ele apontou que “o sabor local de Hong Kong está se perdendo em alguns filmes”.

“Eu gostaria que houvesse mais filmes de kung fu”, disse ele. “Eles são parte de nossa cultura. Mas não existem novas estrelas jovens por aí. Quem está fazendo uma nova geração de filmes de kung fu atualmente? Se todos os jovens atores que estrelar romances, por que eles precisariam aprender kung fu? Para as cenas de sexo?”

Os três filhos de Hung – Timmy, Jimmy and Sammy – já atuaram em vários projetos com ele, mas ele disse que não os pressionaria. “Quero que eles vejam o mundo por eles mesmos”, explicou.

Porém, ele também não enxerga o prêmio do festival de cinema como o fim de sua carreira. Assim que o festival terminar, ele pretende voltar para Hong Kong e começar a filmar novamente.

“Não estou pronto para um prêmio pela realização da obra”, disse ele. “Soa como se eu fosse me aposentar em breve, mas sinto como se estivesse começando agora”.